terça-feira, 9 de outubro de 2012

Entrevista com Anne Rice

     Anne Rice é uma escritora norte-americana, que ficou famosa através da obra Entrevista com o Vampiro. Ela é responsável por dar nova feição aos vampiros,antes com aparência medonha e tanto quanto superficiais e estereotipados. Suas personagens são bonitas, sensuais, sedutoras e profundas psicologicamente e convivem com dramas,sentimentos,paixões peculiares aos seres humanos.
     Dotada de grande sensibilidade e extraordinário talento, a escritora nos conduz, por seus livros, a caminhos interessantes e sempre ressalta o desejo ávido dos vampiros por sangue, ora pela sobrevivência, ora pelo lado fetichista,culminando no ápice do prazer sangrento.

   Por Akasha Blood  

Leiam a entrevista concedida por Anne Rice à Folha de São Paulo,por Fernanda Ezabella.

Folha - Faz 35 anos que seu primeiro livro foi publicado. Quais suas memórias daquela época?

Anne Rice - Ah, eu lembro de tudo, até da onde estava sentada na casa. Estava escrevendo um conto, pensando em como seria colocar um vampiro para falar da sua própria história. Nos primeiros rascunhos, ele surgiu bem cínico, selvagem. Mas quando passei a transformar em romance, ele foi se desfazendo, falando de verdade da sua dor. E aí surgiram Lestat, Claudia, foi incrível.

Mas foi um período complicado na sua vida, não?
Morava num apartamento em Berkeley, na California, e minha filha tinha morrido de leucemia aguda. Era um período de dor, pesado. Comecei a escrever o livro e não o associe ao sofrimento. Era um escape para mim. O livro me levou para longe da dor e me mostrou uma forma de falar da qual eu me senti segura. Eu adorei, fiquei encantada com o romance dos vampiros e queria mostrá-los bonitos, sensuais. Não como em "Drácula" [de Bram Stoker], bestial e horrível.

A senhora disse numa entrevista que se sentia como Lestat. Por que não Louis, narrador do romance?
Bem, eu fui Louis quando escrevi o primeiro livro, mas no segundo eu virei Lestat. Era meu herói. Lestat é um desses personagens que te pegam de surpresa. Não vi ele chegando. Louis era meu foco, mas de repente esse outro personagem chegou e tomou conta de tudo, pedia atenção, me puxava. E eu o abracei e ele virou meu alter-ego, minha voz. Personagens precisam fazer isso, precisam exigir.

A senhora revisita esse personagens?
Não, na verdade. A não ser para os quadrinhos ["Entrevista com o Vampiro" ganhará uma nova versão em HQ em 2012] ou quando falamos sobre direitos para o cinema. Devemos ter algum filme com Lestat, mas ainda é muito cedo para dizer qualquer coisa.

Deixaria Tom Cruise fazer novamente [o ator estrelou o filme de 1994 de Neil Jordan]?
Sem dúvida, claro. Mas não acho que ele gostaria de fazer. Teríamos ouvido dele há muito tempo se quisesse. Ficaria muito feliz em ouvir sua voz no telefone. É um cara maravilho e um ator bom.

Mas na época a senhora foi contra a escolha dele para o papel e depois mudou de ideia. Chegou a conhecê-lo pessoalmente?
Não, tivemos várias conversas por telefone e ele foi muito gentil. É um cara muito legal e tem uma dimensão espiritual muito grande, ele acredita em algo e trouxe isso para seu Lestat. Não foi uma interpretação superficial. Foi ótimo.

Mas ele faz parte da Cientologia. É meio esquisito, não?
É verdade, mas pelo menos ele acredita apaixonadamente nisso. E respeito profundamente. Para mim, pessoas que acreditam em algo são mais interessantes do que pessoas que não acreditam em nada. Não divido suas convicções, mas admiro que ele se importe.

E quais livros estão interessados em fazer filme?
Não sei, é cedo para dizer, mas espero que saia em breve algum anúncio. O filme real sobre Lestat ainda tem que ser feito. Há 12 livros sobre suas aventuras, e os filmes que fizeram mal tocaram a superfície. Pelo menos é como eu vejo Lestat.

E a senhora escreveria o roteiro deste possível filme, como fez com Neil Jordan?
Não. Estou tão ocupada com meus livros. Só quero trabalhar com essa minha história nova do lobisomem e tenho outro livro sobre Atlantis. Se eu tenho algum talento, é aqui que ele é necessário, nos livros. Não em roteiros.

O diretor Guillermo Del Toro disse uma vez que o fascínio que temos por vampiros talvez seja por causa de nossas memórias reprimidas de quando éramos primatas e, algum momento, canibais. Acha possível?
Sim, pode ser verdade. Acho que temos uma parte do cérebro que reflete a nossa evolução. Há coisas primitivas em nosso cérebro que voltam para quando éramos completamente animalescos. Por milhares de anos, a espécie humana rodou em pequenos bandos pela terra batalhando para sobreviver, disputando lideranças. Isto não vai deixar seu DNA com apenas algumas poucas milhares de anos. É uma coisa incrível. Acho que história da evolução e antropologia são chaves para entender quem somos.

Já cruzou nessas feiras de livros com Charlaine Harris (autora dos livros que inspiraram "True Blood") ou Stephenie Meyer (autora dos livros que inspiraram os filmes "Crepúsculo")?
Não. Mas troquei e-mails com Charlaine, escrevi para parabenizá-la pelo seu sucesso. Não conheço Stephenie Meyer, mas admiro o que ela conseguiu fazer. O público realmente premia coisas originais. E ela foi bastante original em colocar esses vampiros na colégio. Você não consegue fazer isso se não tiver um sentimento verdadeiro. Eu não poderia fazer, não tenho a menor ideia de como adolescentes se viram ou se relacionam com vampiros. Mas ela conseguiu.

E como será "The Wolf Gift" [livro que está terminando agora e marca sua volta aos monstros]?
Adoro pegar temas clássicos que a gente já viu nos filmes, na cultura pop. Fiz isso com os vampiros. Tirei o vampiro de Hollywood e fiz com que ele contasse sua história pessoal. Neste romance do lobisomem, ele não conta sua história, eu o faço. É um jovem jornalista de San Francisco que é mordido e passa pela transformação, nos dias de hoje. Ele tem uma adorável família, uma namorada, vive num ambiente bem criativo e interessante. Ele descobre que pode se transformar nesta coisa e ir aos telhados das casas à noite e ouvir as vozes das pessoas em todos os lugares. É um herói de verdade. Ele não perde a cabeça quando vira lobisomem, não vira um animal à noite e depois esquece o que fez. Tem noção de tudo. Já tenho 500 páginas prontas e quero terminar nesta semana.

Como faz para não ser influenciada por todos esses outros homens-lobos que aparecem na TV e nos cinemas?
É difícil. Minha própria irmã [Alice Borchardt] fez três livros sobre lobisomens que eu nunca li. Ela morreu em 2007, era realmente uma verdadeira mentora para mim. Eu só quero dar a minha versão neste personagem e deixá-lo desenvolver seus sentimentos. Sei que o tema está supersaturado, mas são como faroestes e as histórias de detetive. Não há fim para esses gêneros. Você pode fazer um excelente faroeste amanhã. Você sempre está competindo com você mesmo, não com os outros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Adoro quando você comenta,merece até uma mordidinha!